segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Vogais e Timbre na flauta

Gostaria de retomar uma das funções originais deste blog, que é a de divulgar questões flautisticas e musicais. Para tanto, parto desta questão que me surgiu a pouco tempo, por parte de um professor de flauta que foi meu aluno:

QUESTÃO:

Para mim é natural (... talvez automático até !) dispor a cavidade bucal com a forma de "u" ou "ou" tipo a palavra "ouro". Considero que consigo (obtenho) mais homogeneidade, especialmente nos agudos e graves, com este formato de bocal. Naturalmente, quando desejo e também penso em cores/timbre, modifico a cavidade e uma nova concepção de som surge.

Esta semana surgiu uma situação curiosa com uma aluna. Sempre trabalhei sonoridade com ela, deixando bem à vontade com o formato da cavidade bucal. Quando comecei a explorar as possibilidade de vogais com ela (a, é, ê, i, ó, ô, u) e também algumas combinações (i com ê), ( o com u). ela me disse: eu associo o formato da boca com o nome da nota !


Eu levei um susto danado ! Como é que é??!!! Sim, quando toco a nota lá, penso em a, ré, penso em ré , e assim sucessivamente.... Eu pensei.... Meu Deus, nunca imaginei de alguém fazer isto !!!!!!


RESPOSTA:

Sim já vi esta questão da pessoa "solfejar" as notas, inclusive eu mesmo! Nós treinamos desde a mais tenra infância expressar nossos pensamentos, sentimentos, necessidades, etc., através de sons, e é natural que criemos uma ligação “direta” entre a formulação de pensamentos e a formação de configurações buco-labiais. É o famoso “pensar em voz alta” (ou em sussurros, ou mesmo sem ar nenhum, mas movendo a boca). Porém, na flauta as relações de sonoridade são bem diferentes das da voz falada e devemos criar outros reflexos.

Esta questão das vogais na flauta é um tema polêmico, pois um ressonador acústico somente ressoa quando a uma fonte produtora de som está eficientemente conectada ao ressonador. No caso da voz - que utiliza os mesmos ressonadores que a flauta - a fonte produtora são as cordas vocais, e o som que sai da laringe (que é "anterior" aos ressonadores) com a corrente de ar preenche e ativa os ressonadores buco-faciais (que são os que produzem as vogais). Porém, diferentemente de outros ressonadores (caixa do violão, tambores, etc), estes ressonadores geralmente não são ativados por fontes externas ("posteriores") a eles. Nossos ressonadores bucais não vibram facilmente ao contato de uma fonte de som externa, como um tímpano vibra se um trompete é tocado ao lado dele. Esta é a argumentação utilizada para aqueles contrários a real eficiência dos ressonadores buco-faciais. Porém pesquisas científicas sérias recentes (Cossette,Montgermont et alli, especialmente as do final de 2010) provam que a energia acústica de fato tem um componente mensurável que retorna para a cavidade bucal, e isto pode apontar para a eficiência destes ressonadores “internos” na produção de timbre na flauta. Apesar destes estudos não tratarem especificamente de timbre, eles apontam para o fato do tipo e coluna de ar (laminar ou turbulenta) é fundamental para a interconexão entre os diferentes pontos de pressão acústica na flauta (as pressões anteriores e posteriores aos lábios e bocal).

Na prática, alguns juram que as vogais funcionam, e outros exatamente o contrário. Estas pesquisas apontam para o fato de que o funcionamento das vogais depende do tipo de jato de ar produzido, o qual varia muito em diferentes "escolas" de flauta. Ou seja, a depender do tipo de jato, as vogais podem ou não funcionar – tanto os defensores como os contrários das vogais na flauta estão corretos!

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